A tragédia que aconteceu nos últimos dias no Rio Grande do Sul era mais que esperada, haja vista os diversos alertas de estudiosos e cientistas, bem como foram alertados outros estados e cidades, sobre catástrofes iminentes e tiveram os diversos alertas ignorados pelos governantes  e por grande parte da sociedade.

Existe hoje no Brasil e no mundo, como consequência da nossa ordem mundial capitalista, o consumismo exagerado e a exploração indiscriminada dos recursos naturais, o que acarreta grandes impactos ambientais. Acrescido a isto, existe o negacionismo do clima (caracterizado pelo posicionamento de ignorar a ciência, se recusam a acreditar no impactos das ações antrópicas sobre o meio ambiente e continuam praticando atividades prejudiciais ao nosso ecossistema). 

A catástrofe que vem assolando o Rio Grande do Sul é uma tragédia sem precedentes, apresentando magnitude alarmante.

O Rio Grande do Sul, devido a sua localização geográfica, sofre a influência dos fenômenos naturais que afetam o mundo inteiro: El Niño e La Niña, resultando em secas e chuvas extremas.

O que está acontecendo com o sul do país neste momento, além das influências de fenômenos naturais que ocorrem constantemente na região, é principalmente resultado das mudanças climáticas resultantes do desequilíbrio ecológico. Em frente a tantos alertas recebidos, o estado deveria ter traçado planos de contingência para lidar com as diversas possibilidades de tragédias naturais. 

Diante das consequências devastadoras no Sul do país, é importante pensarmos, enquanto poder público, em políticas públicas de habitação, saneamento básico e combate ao desmatamento e a emissão desenfreada de gases que aumentam o efeito estufa e geram o aquecimento global,  buscando assim diminuir a incidência e a intensidade das tragédias naturais ao mesmo tempo em que nos preparamos para suas ocorrências, e para que isto aconteça de forma efetiva é necessário educação ambiental e trabalho em conjunto, entre governo, sociedade civil, indústrias, empresas, agronegócio, todas as cadeias produtivas e os diversos segmentos sociais, juntos nessa luta de preservação e conservação do meio ambiente.

Enquanto Secretário de Agricultura e Meio Ambiente e Coordenador de Defesa Civil há quase 16 anos, percebo esses impactos ambientais sobre nosso município e região, a exemplo dos níveis de calor elevados no ano de 2023, com temperaturas que chegaram a 40°, enquanto o ano de 2024 chega com volume de chuvas acima do normal, visto que a média anual de chuvas normalmente resulta entre 600 e 800 mm/a, nestes primeiros meses deste ano atípico, algumas comunidades apresentam um índice pluviométrico acima de 1.000 mm. O que nos faz perceber as mudanças climáticas aqui no nosso município e nos possibilita refletir como nossas ações impactam o planeta, incentivando a mudança de comportamento e a criação de estratégias e políticas públicas para minimizarmos esses impactos ambientais que resultam em grandes tragédias.

Quero deixar registrada minha solidariedade à população do Rio Grande do Sul, que sofrem com a destruição, resultando em 100 mortos, 130  pessoas desaparecidas, 230.000 pessoas fora de casa (em abrigos, casa de parentes e desalojadas), milhares de animais em risco, e centenas de produções agrícolas destruídas. São números muito significativos e lamentáveis, que poderiam ser muito menores, se políticas públicas preventivas, acompanhadas com técnicos capacitados, embasados na ciência que norteia ações e procedimentos eficazes para minimizar danos, uma legislação ambiental mais forte e eficiente, ações de reflorestamento, o não desmatamento (pois o estado do Rio Grande do Sul tem histórico de desmatamento em grande escala), conscientização da população, educação ambiental e a diminuição da emissão de gás carbônico, buscando mitigar as perdas e os impactos de outras possíveis catástrofes naturais de grande magnitude.

Texto: Artur Francelino, Ambientalista, Graduado e Pós Graduado em Gestão Ambiental, CREA 3000050229. Atual Secretário Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e Defesa Civil de Ruy Barbosa.

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