Por: Aline Medeiros Torres

A alavancada no cômputo de atentados partidos dos alunos dentro do ambiente da educação básica se torna alarmante nos últimos anos, preocupando não somente pais e professores, como também todo o país. Consequentemente, especialistas de diversas áreas tentam desvendar quais as influências e estímulos para a execução dos atos por estudantes tão jovens, as pesquisas fluem desde a área da psicologia até a área da ciência computacional, entre diversas outras. Por fim, é com base nessas investigações que se torna possível pensar em procedimentos capazes de prevenir ou amenizar a eclosão de tais ataques ao ambiente e à comunidade escolar.

Títulos como “Garoto de 13 anos mata professora e fere mais quatro pessoas em escola estadual de São Paulo”, pelo Jornal Nacional, “Dupla ataca escola em Suzano, mata oito pessoas e se suicida”, pelo G1 Mogi das Cruzes ou “Adolescente é detido após atentado terrorista com bomba caseira em escola Monte Mor; ele usava uma suástica”, pelo G1 Campinas e região, se tornam frequentes e os números da quantidade de investidas violentas partidas de alunos contra o ambiente escolar e seus colaboradores se tornam apavorantes nos últimos anos. De 2002 até 2023 aconteceram 22 desses ataques dentro de instituições de educação de ensino, cerca de 9 desses ataques foram realizados no período de agosto do ano passado até hoje, eventos estes que antes ocorriam bianualmente, agora despontam a ocorrer mensalmente, expõe pesquisa recente efetuada pelo Instituto de Estudos Avançados da Unicamp. 

Devido ao alarde, diversas teorias e investigações foram iniciadas em busca de entender as motivações por trás do cenário. A primeira a ser pensada e descartada seria a hipótese do bullying, em que alguns acreditam que os infratores apenas tomaram tais medidas para se “vingar” de um bullying sofrido dentro da escola, contudo fica fácil perceber que o bullying por si só não seria a principal influência, tendo em mente que na grande maioria dos casos os infratores eram, na verdade, alunos bastante sociáveis, que não sofriam bullying ou que já nem mesmo frequentavam a escola. 

Uma outra hipótese pensada seria a dos transtornos psicológicos como impulsionadores para ações agressivas como estas, porém, novamente, quando pensamos de forma comparativa aos números, a conta não bate, a quantidade de estudantes psicologicamente instáveis é bastante maior do que a de alunos que chegam a cometer os ataques, além de que o problema dos transtornos psicológicos se faz presente no cenário brasileiro bem antes do que os atentados. 

Dessa forma, entendendo que o bullying e os transtornos psicológicos não podem ser culpabilizados por completo como principais agentes da violência, resta pensar nas similaridades entre os perfis dos agressores. Algo notável sobre as características em comum deles seria o acesso a servidores de ódio pela internet, grupos em que usuários compartilham pensamentos de intolerância à diversidade, como racismo, nazismo, misoginia, homofobia, entre outros, e instruem uns aos outros sobre como ou porquê realizar atentados violentos. Esses grupos costumavam serem encontrados apenas em camadas profundas da internet, dificultando o seu acesso, contudo atualmente é possível encontrá-los na superfície da web. 

Esse grande alcance de redes tão perversas pode ser enxergado como um possível potencializador para a propagação desses ataques violentos, tendo em vista que a grande maioria dos transgressores ocupavam algum lugar dentro dessas comunidades. Assim sendo, protocolos que possam banir ou, ao menos, regularizar esse tipo de conteúdo na internet seria o ideal para a prevenção de que essas ideias se espalhem ainda mais. 

Com relação aos pais, o adequado seria a monitoração dos sites em que seus filhos acessam, tendo em mente a dimensão da internet e todos os caminhos danosos que esta pode os levar. Já aos responsáveis pela reportagem desses casos, cabe a noção de quão grande é a responsabilidade de cobri-los de forma consciente, jamais entregando a “fama de justiceiro” que eles tanto almejam. Diante disso, é possível compreender que uma prevenção é capaz de acontecer, se unirmos um pouco de cada parte da sociedade envolvida diretamente ou indiretamente com os casos ocorridos.



Referências:

Estudante de 13 anos mata professora e fere mais quatro pessoas em escola de SP. Jornal Nacional. São Paulo, 27 de março. de 2023. Disponível em: < https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/03/27/estudante-de-13-anos-mata-professora-e-fere-mais-quatro-pessoas-em-escola-estadual-de-sao-paulo.ghtml >. Acesso em: 05/04/2023
Dupla ataca escola em Suzano, mata oito pessoas e se suicida. G1. Mogi das Cruzes, 13 de março. de 2023. Disponível em: < https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2019/03/13/tiros-deixam-feridos-em-escola-de-suzano.ghtml >. Acesso em: 05/04/2023
Adolescente é detido após atentado terrorista com bomba caseira em escola em Monte Mor; ele usava uma suástica. G1. Campinas e região, 13 de fevereiro. de 2023. Disponível em: < https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2023/02/13/escola-de-monte-mor-e-alvo-de-tentativa-de-atentado-e-mobiliza-policia-e-bombeiros.ghtml >. Acesso em: 05/04/2023
Estudo da Unicamp indica aumento de ataques em escolas. Correio Popular. São Paulo, 28 de março. de 2023. Disponível em < https://correio.rac.com.br/campinasermc/estudo-da-unicamp-indica-aumento-de-ataques-em-escolas-1.1357502 >. Acesso em: 05/04/2023