O bispo e o conselho diocesano de pastoral, representando pelos padres da diocese, as religiosas e leigos das 23 paróquias, reunidos no conselho, no dia 18, terça-feira, emitiu
uma carta ao povo de Deus trazendo algumas orientações sobre a escolha dos candidatos a presidência
na republica. Carta essa que está causando muita polêmica pelo fato das orientações
apontarem indiretamente contra um presidenciável. Tópicos do tipo: Não votar em
quem defende “uso das armas” e “nos deputados federais e senadores que foram a
favor da PEC da Morte.”
Na opinião de alguns internautas, a carta emitida pelo líder
religioso está sendo uma investida indireta contra o candidato Jair Bolsonaro,
pelo fato de alguns tópicos terem relação com o que o candidato supostamente
defende.
Confira a carta na íntegra;
DIOCESE DE RUY BARBOSA CARTA AO POVO DE DEUS SOBRE AS
ELEIÇÕES 2018
“Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos
opressores para privar os pobres dos seus direitos e da justiça” (Isaías 10, 1)
Caros irmãos e irmãs,
O ano eleitoral representa um especial desafio à nossa rede
de comunidades. A esse desafio, a Igreja nos convida a dar respostas à luz da
nossa fé cristã. Cada pessoa é convidada a exercer o seu direito e a cumprir o
dever de dar o seu voto consciente. A Igreja não se sobrepõe à consciência de
nenhuma pessoa, mas oferece critérios para o necessário discernimento nesse ano
eleitoral.
A CNBB publicou vários documentos sobre o ano eleitoral.
Entre eles destacamos a CARTA DO FÓRUM NACIONAL DAS PASTORAIS SOCIAIS, SETOR DA
MOBILIDADE HUMANA E ORGANISMOS e a Mensagem da CNBB para 07 de setembro: A
FORÇA TRANSFORMADORA DE UM POVO.
Com base nesses documentos, trazemos aqui algumas
orientações para um bom exercício da cidadania, à luz da Doutrina Social da
Igreja:
1- Não votar nos deputados
federais e senadores que foram a favor da PEC da Morte (congelamento por 20
anos dos investimentos em políticas públicas, Emenda Constitucional nº
95/2016), à Terceirização e à Reforma Trabalhista.
2- Não votar em candidatos que
ataquem os Direitos Humanos e defendam o “uso das armas” como solução para os
problemas sociais. Que não defendam os valores da vida desde a fecundação até a
morte natural, da família conforme o projeto de Deus, da liberdade religiosa,
do respeito, da saúde, da educação, da moradia e da preservação do meio
ambiente.
3 -Apoiar candidaturas que tenham
uma trajetória de compromisso com as lutas por direitos do povo, propostas que
apontem para a inclusão social das pessoas mais vulneráveis, pobres e
excluídas; priorizem a defesa da vida humana, em todas as suas etapas, e da
mãe-natureza; lutem pela igualdade de direitos entre homens e mulheres;
defendam os direitos humanos, principalmente das crianças, dos adolescentes,
dos jovens, das pessoas idosas e dos encarcerados; lutem pelo reconhecimento
dos territórios dos Povos Indígenas, quilombolas, ciganos e comunidades
tradicionais; tenham compromisso com a Reforma Agrária, habitação popular e com
os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
4 - Conhecer as propostas dos
partidos e verificar se correspondem à visão de bem comum coerente com os
valores do Evangelho.
5- Verificar se os candidatos têm
clareza acerca do cargo que ocuparão e de suas funções. 6- Verificar se os
candidatos estão mais preocupados com um bom marketing de sua imagem na
campanha ou em apresentar propostas realistas para os grandes problemas sociais
do país.
Nas eleições de outubro, devemos
avaliar com seriedade cada candidato, cada candidata, suas promessas, sua
campanha, as alianças de seu partido e sua atuação política passada. “O bem
maior do País, para além das ideologias e interesses particulares, deve
conduzir a consciência e o coração tanto de candidatos, quanto de eleitores”
(CNBB, Eleições 2018: Compromisso e Esperança). Precisamos ter cuidado na
escolha dos senadores e deputados, que constituem o Poder Legislativo. No
Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas é que se votam as leis que
podem ajudar ou prejudicar o povo. Anular o voto ou votar em branco favorece o
pior político, enfraquece a democracia e põe em risco a oportunidade de
purificar a política. A cidadania, no entanto, não se esgota no voto. É preciso
continuar acompanhando os eleitos, cobrando-lhes o cumprimento de seu dever de
servir o povo, através de conselhos municipais e fóruns de cidadania, entre
outros.
O Papa Francisco afirma:
“Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não
podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver
na política porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade,
porque ela procura o bem comum. ”
Que Santo Antônio e nossa Mãe
Aparecida intercedam junto à Trindade Santa, pelo povo brasileiro, para que
possamos resgatar a democracia, vencer a tentação da intolerância e dialogar
sempre para anunciar o Reino de Deus, sendo “sal da terra e luz do mundo”.
CONSELHO
DIOCESANO DE PASTORAL
DOM
ANDRÉ DE WITTE
Bispo
Diocesano
Em nota, foi comunicado que a carta foi emitida pelo conselho diocesano de pastoral, representando pelos padres da diocese, as religiosas e leigos das 23 paróquias, reunidos no conselho, no dia 18, terça-feira. O coordenador pastoral da diocese, padre Carlos Marçal reiterou que a igreja não se sobrepõe à consciência de nenhuma pessoa, mas que oferece critérios para os cristão votarem em candidatos comprometidos com os valores do Evangelho.
Matéria atualizada dia 20 de setembro de 2018 às 20h24min
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